Blog de Rui Jose

A vontade de partir...quando ainda nem cheguei....dá-me vontade de rir ao pensar por quem chorei...

sexta-feira, setembro 02, 2005

O CULTO DA MEDIOCRIDADE

Todos os dias, caminhamos em busca de algo, acreditando cegamente na bondade infinita do Homem, que tantas vezes nos dizem que existe, que é real. Contudo, cada vez mais me convenço que essa bondade não passa dum mero descargo de consciência, de modo a minimizar todos os actos cruéis que diariamente praticamos com o mero objectivo da nossa satisfação pessoal.
Primeiro estamos nós, e, depois se não nos prejudicar nem nos der muito trabalho, lá arranjaremos algum tempo para a dita solidariedade, que nos valoriza perante os outros e nos enche o ego. Por exemplo, fica bem andar de fitas brancas em riste por Timor, agora ajudar os mendigos que enchem e que vagueiam pelas nossas cidades, como já não é tão mediático, já não vale o esforço.
De vez em quando lá surgem estas campanhas de solidariedade, em que o principal objectivo, embora pareça ser a ajuda pelo próximo, não o é. Têm como principal objectivo alimentar o nosso ego e limpar a nossa consciência, de modo a nos fazer pensar que somos todos muito bonzinhos e que nos preocupamos com os outros, para que possamos continuar com a nossa vida baseada apenas nos nossos interesses e preocupações.
E eis a nossa sociedade: uma sociedade que se rege por padrões de mediocridade e hipocrisia, visando uma satisfação imediata dos seus instintos mais básicos.

Esta mediocridade reflecte-se em todas as camadas etárias, e o melhor espelho é sem dúvida a televisão. É um lugar comum afirmar que os canais televisivos só transmitem programas maus, de qualidade duvidosa. Contudo, esses programas vão de encontro com os gostos e exigências da população, pelo que se está a encarar o problema pela vertente errada: não é a televisão que está mal, mas sim a própria sociedade.
E eis alguns exemplos onde está patente a mediocridade da nossa sociedade:

· Verifica-se, nas camadas etárias mais jovens uma tentativa de afirmação através do consumo exagerado de álcool e das ditas inofensivas drogas leves, cuja designação não passa dum mero subterfúgio para minimizar e esquecer os efeitos por estas causados. Fala-se, de boca cheia, numa dita legalização redentora, que resolverá todos os problemas, baseada no argumento ilusório que toda a gente consome drogas leves, pelo que é necessário a sua despenalização…

· É o racismo que cresce todos os dias, por parte daqueles que encontram nas pessoas de raça diferente uma justificação para a sua incompetência e passividade. A diferente cor de pele é encarada como a explicação para o desemprego, para a criminalidade, para o tráfico de droga…enfim, para todos os males da sociedade, esquecendo que é a própria sociedade que conduz as pessoas (independentemente da sua raça) a cometer esses actos.

· É o menosprezo mostrado pelas minorias (sejam elas qual forem) através da discriminação e condenação dos seus actos, criticando e menosprezando todos os gostos e opções que difiram das ditas normais.

· É o facismo ideológico que nos é imposto todos os dias por uma igreja autoritária, hipócrita e desfazada da realidade…tudo isto num país supostamente laico. Desde crianças que nos tentam fazer uma lavagem cereberal, vendendo uma imagem de um Deus autoritário, punidor e castigador. Julgam-se donos da moral e da razão, esquecendo a sua presença por demais evidente nos maiores genocídios da história.

· É a camada política envolvida em demagogia, tentando por todos os meios, conquistar os votos dos eleitores. Em altura de eleições vale tudo: desde gozar com a inteligência das pessoas através de campanhas eleitorais ( cujo o único objectivo se resume a tentar ganhar um lugar ao sol) até espezinhar o adversário através de ofensas que muitas vezes ultrapassam o campo político.

· É a extrapolação da importância do futebol, utilizado muitas vezes como fomentador de ódios entre adeptos, onde muitos não passam de meros arruaceiros, que se refugiam do dito desporto-rei para libertar a sua raiva, disfarçada de fanatismo.

· É a crueldade para os animais, manifestada em espectáculos de mera diversão sádica, baseada em argumentos como os costumes e a tradição. Um exemplo por demais evidente é o caso dos ditos touros de morte, em que para a satisfação dum prazer mórbido, são mortos touros em plena arena, para gáudio duma multidão com reminiscências bárbaras. Claro, podem sempre usar o argumento de que o touro sofre muito mais se não for morto na arena. Visto que, de qualquer maneira, as touradas envolvem o sofrimento e a dor do animal, porque não considerar a sua simples e completa abolição? Uma tradição que se baseia na dor e no sofrimento não merece continuar como tal.

· A violência doméstica é encarada como algo absolutamente normal, sendo o marido considerado detentor de toda a legitimidade, ao bater e espancar a sua mulher. E a sociedade fecha os olhos, baseada num ditado popular extremamente sexista: “Entre marido e mulher não metas a colher”. A mesma atitude se verifica entre pais e filhos, onde o facto de um pai bater num filho é considerado como um método de educação extremamente pedagógico.

· É o encarar como legítimo o uso da violência para punir violência, vulgo justiça popular. Perante a inoperância do sistema, certos indíviduos, julgam-se detentores da verdade, e tentam fazer justiça pelas próprias mãos, onde muitas vezes as consequências apresentam uma maior gravidade que as causas originais. Por muito mal que o sistema funcione, jamais, em caso algum, se deve abrir um precedente, pois, se tal acontecer, todos teremos a legitimidade para fazer justiça pelas próprias mãos.

São apenas alguns exemplos onde está patente a mediocridade da nossa sociedade. Podia continuar, pois há muitos mais casos característicos dum culto baseado em padrões que nos tornam cada vez menos exigentes, mais inoperantes.
Como o primeiro passo para a redenção é o reconhecimento dos erros, espero, através desta dissertação, tornar-me mais tolerante, aproximando-me cada vez mais duma vida marcada por acontecimentos que sejam dignos de recordar um dia mais tarde.

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