Blog de Rui Jose

A vontade de partir...quando ainda nem cheguei....dá-me vontade de rir ao pensar por quem chorei...

segunda-feira, setembro 19, 2005


A4 - Decorem este nome!

Uma noite de sábado como tantas as outras...Depois de divagar pelas ruas de Cascais...dirigia-me ao carro para ir para casa...
Quando...o som dum Ben Harper me chamou à atenção. Vinha dum bar irlandês, onde se encontrava uma banda de covers a tocar...
Decidi entrar...e acabei por ficar e ouvir cerca de duas horas de pura criatividade.
Mesmo tocando covers, o toque de diferença e originalidade é por demais evidente. Esta banda revela uma inteligência fora do vulgar, e prova disso é a escolha dos temas de que fazem cover... desde Gershwin a Tom Jobim, passando pelos Beatles, Rolling Stones, Eric Clapton até Violent Femmes, The Cure. Fazem também uma incursão pela música nacional tocando Palma e Rui Veloso, tudo embebido num tom jazzistico.
A versatilidade, a presença e o à vontade da vocalista é excelente. O domínio técnico dos músicos da banda é muito acima da média dos performers de bandas de covers.

Tive a oportunidadede falar com alguns membros da banda, que tiveram a humildade de reconhecer a necessidade de rodagem no circuito de bares....e que originais...só um dia mais tarde.
Estes senhores.....vão ser grandes...oiçam o que vos digo.
Decorem este nome:
A4
Site da banda: http://www.a4-poprock.com

domingo, setembro 11, 2005


Apocalipse
(Rui José)

Quando acabará o mundo?

Ninguém sabe ao certo...

Mas lá bem no fundo,

Há quem diga que está perto...


Serão estes os últimos dias?

Os deuses ainda não se decidiram...

Mas das muitas profecias,

Algumas já se cumpriram...

Valerá então a pena

Continuar a lutar?

Não será tempo perdido

Se o mundo acabar?



"Marte nos ameaça pela força bélica,

Setenta vez fará o sangue derramar:

Auge e ruína do eclesiástico,

E mais os que deles nada quererão escutar."

Nostradamus, ( I, XV)

sexta-feira, setembro 02, 2005

O CULTO DA MEDIOCRIDADE

Todos os dias, caminhamos em busca de algo, acreditando cegamente na bondade infinita do Homem, que tantas vezes nos dizem que existe, que é real. Contudo, cada vez mais me convenço que essa bondade não passa dum mero descargo de consciência, de modo a minimizar todos os actos cruéis que diariamente praticamos com o mero objectivo da nossa satisfação pessoal.
Primeiro estamos nós, e, depois se não nos prejudicar nem nos der muito trabalho, lá arranjaremos algum tempo para a dita solidariedade, que nos valoriza perante os outros e nos enche o ego. Por exemplo, fica bem andar de fitas brancas em riste por Timor, agora ajudar os mendigos que enchem e que vagueiam pelas nossas cidades, como já não é tão mediático, já não vale o esforço.
De vez em quando lá surgem estas campanhas de solidariedade, em que o principal objectivo, embora pareça ser a ajuda pelo próximo, não o é. Têm como principal objectivo alimentar o nosso ego e limpar a nossa consciência, de modo a nos fazer pensar que somos todos muito bonzinhos e que nos preocupamos com os outros, para que possamos continuar com a nossa vida baseada apenas nos nossos interesses e preocupações.
E eis a nossa sociedade: uma sociedade que se rege por padrões de mediocridade e hipocrisia, visando uma satisfação imediata dos seus instintos mais básicos.

Esta mediocridade reflecte-se em todas as camadas etárias, e o melhor espelho é sem dúvida a televisão. É um lugar comum afirmar que os canais televisivos só transmitem programas maus, de qualidade duvidosa. Contudo, esses programas vão de encontro com os gostos e exigências da população, pelo que se está a encarar o problema pela vertente errada: não é a televisão que está mal, mas sim a própria sociedade.
E eis alguns exemplos onde está patente a mediocridade da nossa sociedade:

· Verifica-se, nas camadas etárias mais jovens uma tentativa de afirmação através do consumo exagerado de álcool e das ditas inofensivas drogas leves, cuja designação não passa dum mero subterfúgio para minimizar e esquecer os efeitos por estas causados. Fala-se, de boca cheia, numa dita legalização redentora, que resolverá todos os problemas, baseada no argumento ilusório que toda a gente consome drogas leves, pelo que é necessário a sua despenalização…

· É o racismo que cresce todos os dias, por parte daqueles que encontram nas pessoas de raça diferente uma justificação para a sua incompetência e passividade. A diferente cor de pele é encarada como a explicação para o desemprego, para a criminalidade, para o tráfico de droga…enfim, para todos os males da sociedade, esquecendo que é a própria sociedade que conduz as pessoas (independentemente da sua raça) a cometer esses actos.

· É o menosprezo mostrado pelas minorias (sejam elas qual forem) através da discriminação e condenação dos seus actos, criticando e menosprezando todos os gostos e opções que difiram das ditas normais.

· É o facismo ideológico que nos é imposto todos os dias por uma igreja autoritária, hipócrita e desfazada da realidade…tudo isto num país supostamente laico. Desde crianças que nos tentam fazer uma lavagem cereberal, vendendo uma imagem de um Deus autoritário, punidor e castigador. Julgam-se donos da moral e da razão, esquecendo a sua presença por demais evidente nos maiores genocídios da história.

· É a camada política envolvida em demagogia, tentando por todos os meios, conquistar os votos dos eleitores. Em altura de eleições vale tudo: desde gozar com a inteligência das pessoas através de campanhas eleitorais ( cujo o único objectivo se resume a tentar ganhar um lugar ao sol) até espezinhar o adversário através de ofensas que muitas vezes ultrapassam o campo político.

· É a extrapolação da importância do futebol, utilizado muitas vezes como fomentador de ódios entre adeptos, onde muitos não passam de meros arruaceiros, que se refugiam do dito desporto-rei para libertar a sua raiva, disfarçada de fanatismo.

· É a crueldade para os animais, manifestada em espectáculos de mera diversão sádica, baseada em argumentos como os costumes e a tradição. Um exemplo por demais evidente é o caso dos ditos touros de morte, em que para a satisfação dum prazer mórbido, são mortos touros em plena arena, para gáudio duma multidão com reminiscências bárbaras. Claro, podem sempre usar o argumento de que o touro sofre muito mais se não for morto na arena. Visto que, de qualquer maneira, as touradas envolvem o sofrimento e a dor do animal, porque não considerar a sua simples e completa abolição? Uma tradição que se baseia na dor e no sofrimento não merece continuar como tal.

· A violência doméstica é encarada como algo absolutamente normal, sendo o marido considerado detentor de toda a legitimidade, ao bater e espancar a sua mulher. E a sociedade fecha os olhos, baseada num ditado popular extremamente sexista: “Entre marido e mulher não metas a colher”. A mesma atitude se verifica entre pais e filhos, onde o facto de um pai bater num filho é considerado como um método de educação extremamente pedagógico.

· É o encarar como legítimo o uso da violência para punir violência, vulgo justiça popular. Perante a inoperância do sistema, certos indíviduos, julgam-se detentores da verdade, e tentam fazer justiça pelas próprias mãos, onde muitas vezes as consequências apresentam uma maior gravidade que as causas originais. Por muito mal que o sistema funcione, jamais, em caso algum, se deve abrir um precedente, pois, se tal acontecer, todos teremos a legitimidade para fazer justiça pelas próprias mãos.

São apenas alguns exemplos onde está patente a mediocridade da nossa sociedade. Podia continuar, pois há muitos mais casos característicos dum culto baseado em padrões que nos tornam cada vez menos exigentes, mais inoperantes.
Como o primeiro passo para a redenção é o reconhecimento dos erros, espero, através desta dissertação, tornar-me mais tolerante, aproximando-me cada vez mais duma vida marcada por acontecimentos que sejam dignos de recordar um dia mais tarde.